Mais vale tarde do que nunca!!!!
Chamo-me Cristina, tenho 35 anos, moro no conselho da Amadora, sou casada e tenho 2 filhos.
A minha filhota mais velha chama-se Maria e faz, na próxima 2ª feira, 7 aninhos, o meu principezinho chama-se Francisco e tem 3 aninhos.
Tenho uma relação excelente com a minha familia, com que posso contar a 100% para tudo.
Aliás se não fossem eles neste momento não sei o que seria de mim.
Há um ano atrás tivemos um grande desgosto, a morte da minha sogra com um cancro nos intestinos. Todos nós sofremos muito com a situação pois do diagnóstico ao falecimento passaram unicamente 3 meses, foi um episódio que ninguém estava à espera.
A Maria sofreu muito pois era muito ligada à avó, foi ela que tomou conta dela até aos 2 anos, era a avó que lhe fazia as vontades todas, para além de ser o seu primeiro contacto com a morte.
Passado um ano ainda noto que lhe faz muita confusão, ela é uma criança fechada não demonstra os sentimentos, mas quando falamos da avó noto que fica muito triste.
Eu tenho um lema com os meus filhos, não lhes escondo nada, quero que eles confiem em mim.
Quando me descobriram a doença contei aos meus filhos, de uma forma suave, sem alarmismo mas contei.
Falei com a pediatra e com os professores e todos me aconselharam a contar.
Ontem foi a vez de dizer à Maria ( o Francisco ainda é muito pequenino não entende) que iria ser operada e iria estar uma semana no hospital.
Disse-lhe que me iam tirar um bichinho que tinha na maminha para ficar boa.
Ela perguntou-me se ia morrer, prometi-lhe que não, que não podia, que tinha dois filhos lindos à minha espera em casa e que quando viesse do hospital iríamos festejar.
Iríamos ao Oceanário.
Ficou mais contente, pelo menos até me ver ir.
Às vezes tenho medo, medo de não cumprir a promessa que fiz à minha filha, medo de não voltar para casa, medo de não os ver crescer, medo de pensar no que será deles sem mim.
Tenho de afastar esses pensamentos negativos, mas muitas vezes é difícil, principalmente quando estou sozinha a pensar em disparates.
Sei que tenho de ser forte por mim, pelos meus filhos, pelo meu marido, pelos meus pais...
Tenho de vencer TENHO UMA PROMESSA A CUMPRIR.
Depois da primeira consulta no Hospital dos Capuchos, seguiram-se duas semanas de exames e consulta com a anestesista.
O Resultado dos exames não podia ser melhor, as analises, a ecografia abdominal, o electrocardiograma e a citologia axilar estavam todas óptimas, a ressonância acusou o tumor com 10 mm, ou seja, mais pequeno do que se julgava.
Ontem tive consulta com a minha médica no Hospital, a cirurgia ficou marcada para dia 6 de Outubro, com entrada a 5.
Vão retirar-me o peito pois descobriram mais 3 focos mas como são tão pequenos não é possível fazer-se uma biopsia, conclusão por via das dúvidas retira-se tudo.
A cirurgia será realizada em S. José, pois vão iniciar já o processo de reconstrução que terá de ser com prótese provisória uma vez que sou bastante magra e não tenho tecidos meus que possam ser utilizados.
Dia 28 tenho consulta lá para ser observada pelo cirurgião .
A pior noticia foi que irei estar internada 1 semana, ou seja, estou preocupada com a minha filhota mais velha que não deve reagir bem à minha ausência.
Espero que estas duas passem depressa pois esta espera dá-me cabo dos nervos.
Antes de continuar a contar a minha história não posso deixar de agradecer as palavras amigas que recebi.
Por muito que possa contar com o apoio da família e dos amigos estas palavra são diferentes.
São palavras de pessoas que estão ou estiveram a lutar pelo mesmo que eu.
Admito que preciso de falar sobre a doença, mas de forma directa sem medos.
Dentro da família parece que todos tentam fugir ao assunto com medo de mostrar preocupação e isso me deixar triste, com os amigos e conhecidos todos começam por dizer que não vai ser nada, que vou ultrapassar, que conhecem alguém que já passou pelo mesmo e já está curada e pronto a conversa fica por aí.
Noto que muita gente tenta evitar falar na doença, preferem fingir que não existe, ao ponto de perguntarem ao meu marido como estou e nunca a mim.
Os sentimentos variam de pessoa para pessoa, mas ao ler os blogs sobre mulheres que tem ou tiveram esta doença, identifico-me com elas, pois quando me dizem "não sei como aguentas assim tão bem " realmente elas não sabem.
Para além de ter de lutar para gerir os meus sentimentos de tristeza, medo e esperança tenho igualmente o dever de me mostrar forte, para com todos pois eles alimentam-se da minha força, não posso deixar que me vejam em baixo.
Criei este blog sem ninguem conhecido saber, com o objectivo de poder desabafar e dizer como realmente me sinto.
E a todas as que tiverem paciência para me ler o meu muito obrigada.